Quanto vale o trabalho — o seu, o meu, o nosso? Já parou pra pensar?


Anos atrás, ocupado fazendo orçamentos, lendo e redigindo contratos, cheguei num ponto interessante da jornada: o quanto vale a hora de trabalho.

Logicamente, nenhuma profissão é igual a outra — e muito menos, uma pessoa é igual a outra.

Cada indivíduo tem sua jornada e suas pedras para carregar.

Quando chega o momento da vida em que o valor das coisas cai no seu colo, aí a pessoa pensa no porquê cada profissão tem esse ou aquele valor.

Tanto para quem está começando quanto para quem está no fim da carreira.

Já pensou nisso?

O mercado simplesmente te dá um papel escrito: “Você vale X.”

Indignado, me perguntei o porquê disso — e de onde vêm os valores praticados.

Logicamente, para organizar e simplificar o mundo do trabalho, chegou-se a um valor básico.

Mas como?

Essa pergunta me perseguiu por dias.

E quanto mais eu pensava, mais percebia que o valor do trabalho não pode ser medido apenas por números.

O trabalho é uma das expressões mais concretas e básicas da existência humana.

É por meio dele que transformamos o mundo, sustentamos nossas vidas e deixamos marcas.

Mas, afinal, quanto vale o trabalho?

Não o salário, não o preço de uma hora — mas o valor real, ético, social e histórico do que fazemos.

Imagine uma criança que acaba de nascer.

Antes mesmo de aprender a falar, ela já consome recursos: fraldas, papinhas, consultas médicas, roupas, brinquedos.

Um amigo disse uma vez:

“Vai ter filho? Se prepara! De agora em diante é um xixizinho, um realzinho. Um cocozinho, outro realzinho.”

Aí a pessoa vai crescendo, precisando de educação, alimentação, moradia, estímulos cognitivos.

Tudo isso tem um custo — financeiro, emocional, social.

Se tudo der certo com essa criança, um dia ela se tornará profissional.

Mas até lá, foram muitos os esforços ao longo dos anos, centenas de milhares de reais, e talvez muitas barreiras sociais superadas.

Independentemente da classe social ou trajetória, todo ser humano representa um investimento — até o último dia.

E quando finalmente começa a trabalhar, o mercado diz:

“Você vale R$ 20 por hora.”

É isso mesmo?

A precificação do trabalho raramente considera a trajetória humana.

O mercado olha para a oferta e a demanda, ignora o esforço, desconsidera o contexto.

Mas vamos fazer o seguinte.

E se, como Aristóteles, buscarmos uma lógica ética para entender o valor das coisas — inclusive do trabalho?

Partimos do conceito de pecus, o gado que originou a palavra pecúnia.

No início, uma pedra com chifres desenhados podia representar uma vaca — e com ela, trocar por batatas ou outra necessidade.

Hoje temos os diplomas, portfólios e reputações como nossas pedras com chifres.

Mas o que está por trás delas é o que realmente importa: a jornada.

Vamos testar uma outra forma de pensar o valor do trabalho.

Uma fórmula que considera:

  • O custo de formação desde o nascimento
  • O tempo investido em estudo e prática
  • As condições sociais enfrentadas
  • A reputação e escassez no mercado

E com isso, chegamos a um valor base — não arbitrário, mas lógico.

R$ 100 por hora pode parecer muito ou pouco, dependendo de quem lê.

Mas quando se entende o que está por trás, percebe-se que é, talvez, o mínimo justo.

Outro dia, ouvi uma história que resume bem essa lógica:

Uma fábrica estava com sua máquina principal parada por causa de uma pane.

Todos em polvorosa, tentando resolver, até que o chefe da manutenção mandou chamar um técnico.

Ele chegou, olhou com calma, foi até a parte de trás da máquina e apertou um botão.

Bum! A máquina voltou a funcionar.

O chefe, num misto de alívio e indignação, perguntou:

— Caramba! Que maravilha! O que você fez?

— Atrás da máquina existe um botão que deve ser acionado após uma pane. Apertei e tudo voltou ao normal.

— Maravilha, quanto lhe devo?

— São R$ 5.000,00, senhor.

— R$ 5.000,00?! Isso é um absurdo!

— Pode até parecer, senhor. Mas só eu sabia qual era o botão.

O valor do trabalho não está no gesto — está no caminho que levou até ele.

Está no tempo de estudo, na experiência acumulada, nas dúvidas enfrentadas e nas soluções encontradas.

Então, quanto vale o seu trabalho?

O meu?

O nosso?

Já parou pra pensar?

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